Ruty de Katia Gomes Tomé
O estudo das imagens do dente em tratamento endodôntico e das suas estruturas anexas favorece a identificação precoce das alterações capazes de comprometer o prognóstico de sucesso. A perfeita informação radiográfica e a correta interpretação comprovadamente orientam a conduta terapêutica, estreitando a relação entre a cura e a patologia. Assim sendo, e devido à importância da fidelidade desse procedimento, os autores apresentam um dispositivo que, acoplado a qualquer posicionador comercializado, possibilita a tomada de imagens semelhantes sob o aspecto das suas dimensões. A importância desse fato surgiu da necessidade do confronto das imagens obtidas entre as sessões do tratamento. Os estudos clínicos indicaram que o posicionador personalizado obtido através de moldagem com material pesado favoreceu sensivelmente as análises comparativas das áreas da superfície radicular externa acometidas de reabsorção cemento-dentinária, como seqüela de trauma dental, bem como as regiões portadoras de rarefação óssea periapical no decorrer da avaliação da neoformação.
UNITERMOS: Endodontia; Radiologia; Traumatismos dentários; Reabsorção externa * controle.
UNITERMOS: Endodontia; Radiologia; Traumatismos dentários; Reabsorção externa * controle.
INTRODUÇÃO
As lesões traumáticas dos dentes e de suas estruturas de suporte ocorrem normalmente em crianças na fase escolar e em adolescentes. Essas lesões apresentam-se com uma freqüência maior no sexo masculino, com idade entre 7 e 13 anos.
As avulsões dentais que representam 10% dos traumatismos ocorrem acidentalmente durante prática de esportes de contato, brigas e acidentes automobilísticos, atingindo com maior freqüência os indivíduos com acentuado "overjet".
As conseqüências mais comuns das avulsões dentárias são o comprometimento do tecido pulpar, periapical e periodontal, levando a quadros de necrose pulpar, calcificações e reabsorções radiculares.
O exame radiográfico é parte integrante do tratamento endodôntico, auxiliando desde os procedimentos vinculados ao estudo do caso, até a terapia propriamente dita e o controle de resultados.
Em todas as especialidades da Odontologia, e mais especificamente na Endodontia, o profissional que, com facilidade, dominar as técnicas para a obtenção das imagens certamente será beneficiado.
O consenso indica que o sucesso do tratamento pode ser determinado quando a reparação é alcançada em um curto espaço de tempo e o elemento dental volta a assumir a sua função na fisiologia da mastigação. Porém, a velocidade do desenvolvimento da doença, bem como o período relativo à cura são variáveis, exigindo do profissional responsável um acompanhamento rigoroso do estado de saúde das áreas estudadas.
Na área do trauma dental em dentes permanentes, a importância do controle radiográfico está embasada na grande possibilidade da produção de seqüelas, não raramente irreversíveis, exigindo do profissional conhecimento e pronto atendimento.
Muitas vezes, os tratamentos iniciais são conduzidos no intuito de prevenir a instalação das seqüelas mais comuns do traumatismo, fundamentando a necessidade da documentação radiográfica, que traz consigo a indicação do estado atual e que servirá como parâmetro comparativo em todo o transcorrer das avaliações futuras.
Por outro lado, em casos de seqüela já estabelecida, essa documentação comprova, juntamente com a análise dos sinais e sintomas, a cura ou o estacionamento da patologia.
Tendo em vista o exposto, constitui proposta deste experimento a apresentação de um dispositivo capaz de padronizar as tomadas radiográficas, com o objetivo de favorecer o estudo comparativo das imagens obtidas ao longo do período de acompanhamento do
Claro está que os recursos radiográficos são largamente utilizados durante o transcorrer de toda a execução da técnica endodôntica e principalmente nos momentos necessários de avaliação do sucesso da terapia instituída.
A consciência do perigo constante de interpretações errôneas, responsáveis por colocar em risco a permanência do dente em função, deve estar incorporada na formação profissional. Deve, portanto, o Endodontista exigir de si mesmo o apuro na riqueza de informações, para uma completa e correta interpretação das imagens obtidas.
O estudo das imagens, no sentido de detectar precocemente as alterações instaladas na superfície radicular externa e nas estruturas circunvizinhas, assim como em qualquer patologia, colabora com o final exitoso do tratamento. Cabe salientar que as análises devem estar sempre acompanhadas por grande dose de desconfiança daquilo que possa nos parecer excessivamente óbvio. Além disso, o processamento, buscando um contraste semelhante, deverá ser realizado obedecendo a relação tempo-temperatura, de modo a propiciar um contraste passível de análise comparativa.
Uma recente opção capaz de controlar essas variáveis consiste no emprego de colgaduras que possibilitam o processamento de várias películas nas câmaras de revelação de acrílico, de modo a favorecer a padronização da revelação.
Por outro lado, o emprego de métodos que possibilitem a padronização do posicionamento da película radiográfica poderá ser útil na obtenção de imagens semelhantes no que se refere a suas dimensões e posicionamento das áreas merecedoras de um estudo mais acurado.
Resta-nos, portanto, como contribuição ao estudo, definir e discutir as vantagens da utilização do posicionador personalizado nas situações seguintes.
Na utilização em pacientes infantis
Principalmente em se tratando de pacientes infantis, deve-se estar atento não só aos aspectos técnicos, mas também à maneira pela qual essa prática poderá afetar o paciente. Olvidar o fato de que essa situação poderá estar sendo a primeira significa por em risco toda a relação paciente-profissional. A percepção do desequilíbrio pelo ameaço da dor, bem como a geração de outros danos constituem fatores condicionadores do bom êxito do tratamento.
Observar cada criança como única, sem precedentes e diferente no que se refere a suas características psicossociais, possibilita o resultado favorável, pois descarta a abordagem estereotipada.
Assim, nesses casos, o posicionamento da película radiográfica assume um sério problema em virtude da anatomia do palato, comprometido pelo fator de colaboração do paciente em manter o filme no local desejado para a tomada. O posicionador, fixo pela moldagem, por não necessitar da apreensão manual da película radiográfica, elimina algumas das muitas variáveis.
Na avaliação do preenchimento da medicação intracanal
Nos casos em que o tratamento endodôntico faz-se necessário, após criterioso trabalho de limpeza, desinfecção e aumento da permeabilidade dentinária, é consenso o preenchimento do canal principal com hidróxido de cálcio. Sabedores de que a qualidade desse preenchimento mantém estreita relação com a eficácia medicamentosa, constitui boa conduta a análise radiográfica imediatamente após a sua execução, em que a imagem obtida é a prova documental do estado atual do preenchimento.
Independentemente do método de inserção da medicação, a tomada radiográfica, nesse momento, faz-se importante, pois a imagem expressa a qualidade do preenchimento, indicando ou não a necessidade da sua complementação.
Esse dispositivo é, sem dúvida, um importante auxiliar no acompanhamento de casos em que a medicação intracanal, com efeito terapêutico coadjuvante, deverá permanecer por longos períodos de duração.
Na orientação do momento oportuno da troca da medicação intracanal
A obtenção do bom êxito da terapêutica está vinculada ao controle do nível de contaminação situada em toda a estrutura dental, bem como nos tecidos circunvizinhos. Sendo assim, essa medicação deverá agir na periferia radicular, diminuindo as possibilidades de crescimento bacteriano, e, por sua vez, controlar a reação inflamatória existente pela presença de microrganismos.
Faz-se necessário, para que isso aconteça, que os túbulos dentinários estejam desobstruídos, deixando aberto o caminho para a penetração dos componentes da medicação e sua solubilização no interior dos tecidos.
Muito se tem dito sobre o momento oportuno para a troca da medicação intracanal, utilizando como parâmetro orientador apenas o período de tempo. A utilização do posicionador personalizado para tomada radiográfica imediatamente após o preenchimento e nas consultas futuras orientará a escolha da ocasião para essa conduta. Em se tratando de uma medicação que age por dissociação iônica, a solubilização do conteúdo presente no interior do canal principal será um fator indicativo da necessidade da substituição. A análise criteriosa da observação de espaços vazios só se torna possível pela semelhança das imagens radiográficas obtidas, fato extremamente simplificado com o auxílio do posicionador personalizado.
No controle das áreas de reabsorção da superfície radicular externa
A presença de danos na superfície radicular externa como seqüela do trauma dental, bem como o seu diagnóstico precoce representam preocupações de vital importância. O tratamento instituído tem por objetivo inibir o desenvolvimento e regularizar o limite exterior da raiz, cuja análise só é possível pelo estudo radiográfico comparativo.
Claro está que, em se tratando de dados que deverão ser confrontados, quanto mais semelhantes forem as imagens, maior será a fidelidade do resultado do exame.
Os estudos clínicos ressaltam a importante função do posicionador personalizado na situação específica de controle das imagens da superfície radicular externa.
Na orientação do momento oportuno da obturação
A obturação endodôntica, na maioria das vezes, segue os critérios convencionais, buscando ao máximo o selamento marginal apical e cervical. A seleção do cone principal, devidamente ajustado nos três últimos milímetros, favorece a obtenção desses objetivos ao mesmo tempo em que autoriza a realização da condensação vertical.
Nesses casos, o momento oportuno para a execução da obturação está condicionado à ausência de sinais e sintomas e à ausência de exsudato (canal seco).
Sempre que existir a reabsorção radicular externa, o momento ideal é reforçado pela imagem radiográfica, sugerindo a sua estabilização e regularização dos bordos atingidos pela patologia.
Tanto o desenvolvimento da apicegênese como o da apiceficação podem ser avaliados com maior acurácia quando se emprega o posicionador personalizado.
No controle de áreas de rarefação óssea periapical
A confecção de um posicionador com essas características pode ser também um excelente auxiliar no acompanhamento da imagem dos casos portadores de rarefação óssea periapical.
Regiões isentas de sinais e sintomas são avaliadas pela aparência radiográfica da diminuição do dano ósseo causado pela patologia. Sem dúvida, a constância na reprodução da imagem, tanto do ponto de vista da sua posição como do seu processamento, é fator determinante do diagnóstico correto.
CONCLUSÕES
Frente ao exposto, a confecção do posicionador personalizado diminui o erro sistemático e favorece significativamente a obtenção de imagens semelhantes, capazes de aferir comparativamente, com mais segurança, os resultados do tratamento instituído.
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